Sob o signo 50 para já…

por
Pedro Foyos
Jornalista. Cofundador e primeiro presidente da Associação Portuguesa de Arte Fotográfica




A presente obra é regida criativamente pelo número 50 – uma feliz referência temporal e quantitativa. Fim de um tempo político, início de um outro.
O primeiro foi adverso para quase todos os géneros fotográficos, sobretudo o jornalístico, com autores (Eduardo Gageiro e José Antunes, entre outros) chamados à polícia política pelo crime de excessivas visitas aos “bairros da lata”.
Foi, ainda, há 50 anos que irrompeu, em Portugal, um verdadeiro associativismo fotográfico, com encontros anuais tanto em Lisboa como no Porto, Braga e Coimbra, iniciativas que, frequentes vezes, tiveram a presença de Armando Cardoso em representação da saudosa Associação Portuguesa de Arte Fotográfica, falecida mais tarde talvez por falta de amor…

No âmbito jornalístico surgem, nesse tempo, numerosas publicações cujas fichas técnicas registam igualmente o nome de Armando Cardoso: “Foto-Jornal”, “Nova Imagem”, “Foto-Profissional” e, em formato e peso de livro, o luxuoso “Anuário Português de Fotografia” com centenas de participantes.

Passaram 50 anos. Sem dúvida, uma época áurea da arte fotográfica em Portugal. Não se estranhará, por exemplo, que então fosse noticiado num título destacado:
ASSOCIAÇÕES ALERTAM O GOVERNO PARA A GRAVE SITUAÇÃO DA ARTE FOTOGRÁFICA EM PORTUGAL.
Sublinhava-se, nomeadamente, que (…) o alheamento dos órgãos governamentais para com a fotografia entendida como expressão de arte e atividade criativa primordial na comunicação humana faz-se sentir hoje numa dimensão mais do que nunca penosa, devido ao aumento generalizado do custo dos materiais fotográficos. Esta situação não pode deixar de suscitar as maiores apreensões.
Alertava-se para as dificuldades dos fotógrafos amadores cada vez mais impedidos de exercer uma atividade cultural desligada de quaisquer fins lucrativos.

Decorridos cinquenta anos, a situação não se alterou. Constitui um penoso encargo financeiro realizar uma exposição deste género artístico. É, assim, gratificante verificar uma iniciativa editorial acolhendo a síntese da obra de um nome maior da arte fotográfica em Portugal. As fotografias que integram este livro testemunham, nos seus diferentes registos artísticos, a sensibilidade atenta e o apuro criativo que Armando Cardoso sempre cultivou.

Pedro Foyos

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